terça-feira, 22 de julho de 2008

O futuro do nosso futebol nas mãos da péssima arbitragem

ESPECIAL - OPINIÃO

Guardo do futebol minhas melhores e mais gratas recordações. Militei nesse esporte por aproximadamente 23 anos: 1955 a 1978, com passagens pela Venezuela, Colômbia e Uruguai. Tais circunstâncias, no entanto, me conferiram apenas o privilégio de poder ver, sentir e analisar esse misterioso e fascinante esporte de uma forma especial e diferente de alguns. Mas o fato em si não me credencia a entender mais de futebol do que nenhuma outra pessoa. A experiência vivida é que acabou me dando uma visão particularizada e a percepção de certos detalhes que eventualmente passam despercebidos.

Assim, preocupado com todo o contexto do futebol, sirvo-me desse espaço para expor algumas considerações, que julgo pertinentes, visando a identificar possíveis causas que vêm comprometendo nosso principal esporte e apontar algumas anomalias que ocorrem dentro e fora do campo. Vejo o atual momento do futebol brasileiro como extremamente preocupante, notadamente no que se refere às nossas arbitragens, as quais considero péssimas e que chegam a beirar o ridículo se comparadas às européias. Uma calamidade. Por outro lado, quero frisar, também, que não faço parte e nem me alinho entre os nacionalistas de plantão que vêem nosso futebol como o melhor e mais perfeito do planeta, como “vendem” alguns integrantes da imprensa esportiva gorda, que nunca puseram o pé em uma bola. Prefiro analisar mais com a razão do que com a paixão. Não sejamos hipócritas; não devemos enganar nossos próprios olhos. Quem assistiu aos jogos da Copa da Europa devem ter se encantado com o que viu, especialmente a final disputada entre duas escolas extraordinárias: ESPANHA X ALEMANHA, sagrando-se campeã a seleção espanhola. Exibiram um futebol forte, objetivo, rápido, sem paralisações e sem a “esperteza” dos atletas sul-americanos. Portanto, quem viu há de reconhecer que já estamos no andar de baixo e as causas vêm a seguir.

Por mais estranha que possa parecer minha tese, entendo que, no tocando às nossas arbitragens, se alguma medida drástica não for tomada pelas autoridades que comandam o futebol brasileiro, em seus diferentes níveis e com a urgência necessária, no sentido de repensar e de reformular a mentalidade, a cultura e daí a maneira de atuar dos nossos árbitros, nosso futebol, com absoluta certeza, em breve espaço de tempo estará condenado ao fracasso e, definitivamente, afastado das grandes conquistas. Árbitros despreparados, arrogantes, vaidosos, querendo aparecer mais que os atletas, exibindo uma parafernália de instrumentos modernos, cronômetros sofisticados, mas são tecnicamente abaixo da crítica. Falta-lhes bom senso e, às vezes, até discernimento. A quantidade excessiva de cartões aplicados – DESNECESSARIAMENTE – aos atletas faz muito mal ao futebol. Irrita, desequilibra e vicia o jogador ao mesmo tempo. Isso vai repercutir lá na frente. O atleta viciado com cartão não vai conseguir iludir árbitros estrangeiros com suas artimanhas. O mesmo hábito nocivo que adquiriram por aqui não vai fazer efeito em um torneio internacional e menos ainda em uma Copa do Mundo.

É uma incompetência generalizada. Não são capazes de perceber o tamanho do equívoco e a extensão do dano que acarretam ao futebol. Os árbitros europeus, há décadas, já se conscientizaram que a aplicação – INDEVIDA – de cartões traz conseqüências prejudiciais ao esporte, extrapola o campo de jogo e desencadeia uma série de situações nocivas e indesejáveis ao futebol. Faço votos e torço para que nossos apitadores não estejam acompanhando os comentários daqueles quatro ex-árbitros, que agora “descolaram” uma “boquinha” nas emissoras de televisão. Se isso estiver ocorrendo, estamos fritos, porque ali, um é a cópia fiel do outro. Se alguém perguntar a um deles, por exemplo, se vai chover no Ceará, a resposta é: “ISSO É FALTA PARA CARTÃO”, ou então, “O CARTÃO FOI BEM APLICADO”, e assim vão detonando o futebol brasileiro. Lembro-me de uma partida entre Vitória x Coritiba, no Barradão-BA, anos atrás, em que o árbitro simplesmente sacou vinte e um cartões. Uma coisa absolutamente ridícula e inacreditável, passível até de um exame psicológico, tal a afetação com que “sua excelência” consumava o ato teatral. A ação nefasta desse apitador prejudicou vinte e um atletas e desempregou dois técnicos de uma só vez. A utilização excessiva dos cartões está na razão inversa da qualidade do árbitro, ou seja, quanto maior o número de cartões, mais incompetente, despreparado, inseguro ele demonstra ser. Esconde sua fragilidade através do gesto espetaculoso.

De acordo com uma pesquisa internacional a que tive acesso, o tempo de bola corrido no futebol europeu alcança invejáveis 85 minutos e a mesma revista apontava que, no Brasil, a bola não corre mais do que 52 minutos. Quem se responsabiliza por esse “estelionato futebolístico”? E as conseqüências que advêm dessa incompetência generalizada? O futebol enfraquece porque nenhum treinador consegue manter a mesma equipe no jogo seguinte, em decorrência de suspensões automáticas; os times não adquirem conjunto, o técnico não consegue dar padrão de jogo à sua equipe; o atleta se descontrola emocionalmente e é multado; compromete-se o trabalho do preparador que, com algumas derrotas seguidas, já vai “pra roça”; o clube toma prejuízo; a torcida se afasta dos estádios e, se acrescentarmos a essa multidão de motivos que mencionei, o escorchante valor dos ingressos, a falta de condução para os estádios; barrigas vazias; a inadmissível e vergonhosa redução pela metade da capacidade de público; as revoltantes e quilométricas filas que não andam; bilheterias corruptas; cambistas, etc, não precisa ser nenhum gênio para antever que motivos não faltam para que seja estabelecida a violência nos estádios. Dali “pro pau” é um pulinho.

É absolutamente indesculpável que em plena era da velocidade, onde os botões comandam quase tudo na vida, os “gênios” que mamam no futebol ainda não conseguiram criar mecanismos para agilizar e modificar esse estado de coisas. E os energúmenos que cuidam do nosso esporte ainda não tiveram, igualmente, a devida percepção dos reais motivos e o momento em que se inaugura a violência. Preferem se aprofundar nos efeitos ao invés de irem atrás das causas. Tal como o outro que, para acabar com o carrapato, preferiu matar a vaca. Isso retrata bem a insensatez dessa gente. Reduzem o tamanho dos estádios e afastam o público que mais precisa de lazer: ingressos com preços incompatíveis com a realidade brasileira; proíbem a entrada de bandeiras e faixas que tanto ornamentam os estádios; barram as fanfarras e os instrumentos musicais que alegram e fazem o tempo passar; eliminam as torcidas uniformizadas, que dão vida ao ambiente, cerceando uma manifestação cultural e afrontando o preceito constitucional de ir, vir e permanecer. Depois não querem que haja violência?

Mas o que espanta e nos causa profunda indignação nessa história toda é o silêncio horizontal e a omissão dos envolvidos. Habituado a acompanhar todos os programas esportivos mostrados pelos diversos canais de televisão, notadamente aos domingos logo após as rodadas, não vi, até a presente data, uma única figura da imprensa esportiva brasileira tocar em um só tema desses que aqui expus. Garotões bem vestidos, bem nutridos, rechonchudos, sorridentes, dentição completa, desses criados em condomínio em que a mãe leva para a escola e vai buscar, nunca andaram sozinhos ou descalços, jamais chutaram uma bola, nunca viram formiga e nem cocô de cavalo. São estes que nunca enfrentaram uma fila de 6 horas para compra de um ingresso. Hoje lá estão: locutores de TV, radialistas, jornalistas especializados, comentaristas, comandantes de mesa-redonda, apresentadores e convidados. Juntos, na mesma criminosa omissão, desde o presidente da CBF, passando por presidentes de federações, presidentes de clubes, dirigentes de segundo escalão, treinadores e atletas e mais o bando de mesmice acima já mencionado, quero que façam parte do mesmo balaio egoístico, egocêntrico e pecaminoso que não move um dedo em benefício do futebol. E vem aí uma Copa do Mundo. Já imaginaram, em São Paulo, estádios vazios e sem ornamentação? “Antes do silêncio total ainda serão necessárias muitas palavras inúteis”.

por Afonso Celso De Agostini Sóssio, ex-jogador, especial para o Blogo News

Um comentário:

Filipe Marques disse...

Eu ainda acredito em um Futebol jogando com amor, jogando com emoção
e deixando um pouco de lado, a questão financeira.
Eu acredito em jogadores que tem amor a camisa e torço pra nosso futebol possua cartolas mas decentes,