PONTO DE VISTA
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Há momentos nos quais a mídia reza para alguma coisa de ruim acontecer. Jornalistas correm atrás de pessoas chorando para estampar uma edição que, espera-se, venda como água, como alguns preferem. Porém, em outras situações, parece que o caos da vida social não precisa de reza para dar o ar da graça. O assalto sofrido pelo apresentador global, Luciano Huck, é um bom exemplo de como a mídia gosta de sensacionalizar um acontecimento tão comum que, se envolve pessoas influentes da mídia, tomam proporções gigantescas, de comoção e indignação nacional.
Deve ser fácil para uma pessoa de 36 anos, apresentador da maior emissora do país, com carro importado e tantas coisas mais, além de um bom português, escrever um desabafo. Intitulado “Pensamentos quase póstumos”, o texto do Luciano Huck mostra o desabafo da elite, que paga todos os impostos, uma fortuna, como afirmou. “Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade”, disse. Mas será que esse assalto foi a gota d’água desse problema? Creio que não. Nesse mesmo momento que está lendo esse blog, pessoas – tão inocentes como o apresentador – são mortas em algum lugar do nosso país. Do Oiapoque ao Chuí. É estranho pensar que só quando a vítima tem voz – pode-se usar do maior jornal impresso do país, a Folha de São Paulo – a sociedade se revolta contra a violência.
Para o escritor e rapper Ferréz, não há motivo para reclamação: o assaltado ficou com o que tinha de mais importante, sua vida, e o assaltante com um relógio que daria para comprar dezenas de casas “na sua quebrada”. Um rolo justo para ambas as partes. O escritor ainda questiona: se a missão, como denominam o assalto, desse errado e o ladrão, que foi educado a pensar que o importante é ter e não ser, morresse, alguém se preocuparia com a família dele, com a mãe que todo dia de manhã pede trocados no bar para tomar mais uma dose de cachaça? Ele receberia alguma homenagem póstuma como, certamente, o apresentador teria? A família dele tem algo diferente da mãe Angélica e dos filhos que são cuidados, muitas vezes, por pessoas da periferia? Eu respondo: a única diferença é que os ricos preferiram escurecer os vidros dos carros e instalar câmeras de segurança, assumindo esse mundo indefensável. Mas quando, por diversas razões, esse mundo privado da elite – uma cúpula de vidro – é atingido, eles gritam “Cansei!”, enquanto o cantor Lobão carrega uma camiseta com “Peidei”.
Na verdade, esse herói dos morros, que agora tem um relógio para vender, é desses que não se sujeitariam a dar audiência a um programa de TV, tentando se equilibrar em uma tábua a fim de ganhar uns trocados para pagar dívidas, rodeado de mulheres seminuas, como afirma Ferréz. Muito menos é um dos que deixam passar a oportunidade quando um Roléx está vacilando por aí.
O governo do estado, responsável por assegurar a segurança pública, não é questionado. Mas o governo federal sim. Estranho, muito estranho para um simples desabafo. De memórias póstumas, me bastam as de Brás Cubas.
Deve ser fácil para uma pessoa de 36 anos, apresentador da maior emissora do país, com carro importado e tantas coisas mais, além de um bom português, escrever um desabafo. Intitulado “Pensamentos quase póstumos”, o texto do Luciano Huck mostra o desabafo da elite, que paga todos os impostos, uma fortuna, como afirmou. “Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade”, disse. Mas será que esse assalto foi a gota d’água desse problema? Creio que não. Nesse mesmo momento que está lendo esse blog, pessoas – tão inocentes como o apresentador – são mortas em algum lugar do nosso país. Do Oiapoque ao Chuí. É estranho pensar que só quando a vítima tem voz – pode-se usar do maior jornal impresso do país, a Folha de São Paulo – a sociedade se revolta contra a violência.
Para o escritor e rapper Ferréz, não há motivo para reclamação: o assaltado ficou com o que tinha de mais importante, sua vida, e o assaltante com um relógio que daria para comprar dezenas de casas “na sua quebrada”. Um rolo justo para ambas as partes. O escritor ainda questiona: se a missão, como denominam o assalto, desse errado e o ladrão, que foi educado a pensar que o importante é ter e não ser, morresse, alguém se preocuparia com a família dele, com a mãe que todo dia de manhã pede trocados no bar para tomar mais uma dose de cachaça? Ele receberia alguma homenagem póstuma como, certamente, o apresentador teria? A família dele tem algo diferente da mãe Angélica e dos filhos que são cuidados, muitas vezes, por pessoas da periferia? Eu respondo: a única diferença é que os ricos preferiram escurecer os vidros dos carros e instalar câmeras de segurança, assumindo esse mundo indefensável. Mas quando, por diversas razões, esse mundo privado da elite – uma cúpula de vidro – é atingido, eles gritam “Cansei!”, enquanto o cantor Lobão carrega uma camiseta com “Peidei”.
Na verdade, esse herói dos morros, que agora tem um relógio para vender, é desses que não se sujeitariam a dar audiência a um programa de TV, tentando se equilibrar em uma tábua a fim de ganhar uns trocados para pagar dívidas, rodeado de mulheres seminuas, como afirma Ferréz. Muito menos é um dos que deixam passar a oportunidade quando um Roléx está vacilando por aí.
O governo do estado, responsável por assegurar a segurança pública, não é questionado. Mas o governo federal sim. Estranho, muito estranho para um simples desabafo. De memórias póstumas, me bastam as de Brás Cubas.
11 comentários:
Foi o melhor post que li neste blog.
E tens razão, pois agora mesmo tem gente morrendo ou sofrendo abusos por causa da violência urbana. Mas ninguém vai saber de se manifestar contra isso agora. Quantos outros Lucianos' já foram assaltados? heiN?! Então, cada um cidadão brasileiro tem o direito a segurança. Cidadania vale mais do que um relógio...
Enfim, Brás-il não está indo como queremos, uma pena.
Se quiser visitar o meu: http://digaoquequiser.blogspot.com
O Grande Problema eh q nos não somos Seres Criticos!
Pagamos Muito pal pra artistas, e somos alienados pelos meios de comunicação. mais especificamente a TV (Rede Globo)
bom, pra ser sincero... Perdi as esperanças..
otima reflexão!
abrass
adorei o blog, muito criativo
parabens mesmo!!!
Oi Adilson, primeiro, parabéns pelo blog. Está muito bom. Tenho certeza que vocês estão fazendo um jornalismo online de qualidade. Agora sobre o seu post, gostei das suas colocações. Só acrescenaria que os dois artigos (Huck e Ferrés) trouxeram para as páginas da Folha a tensão constante entre a alta sociedade e a periferia. Cada qual justificando suas razões, com o seu devido grau de miopia. E o "resto" da sociedade, como sempre, fica à mercê destes extremos. Afinal de contas só são considerados 'heróis' as pessoas riquíssimas - capa de Caras - ou os "manos justiceiros". O trabalhador normal, o pai e mãe de família não são heróis. Enfim, 90% da sociedade brasileira não tem rolex e nem faz "missões". Mas quem se importa com este tipo de gente? Nem Hucks, Nem Férres.
Caro Adilson, grata por seu comentário em meu blog.
A opção por um lado da verdade é sempre perigosa, por certo. Qual é o mais certo? o Ferez? ou o Luciano Huck? a Caros Amigos? ou a Folha de São Paulo?
Da mesma forma que Ferez tem suas qualidades quando retrata o mundo da periferia e as diferenças sociais, o Huck devolve aos desfavorecidos a oportunidade que ele teve de ser bem-sucedido, através de seu Instituto Criar, que conheço pessoalmente (uma maravilha).
Costumava ler com prazer a Caros Amigos. Deixei de fazê-lo quando a revista passou a proteger o lulismo que para mim (e ai é minha opinião pessoal) representa tudo o que mais desprezo na vida. A mentira, a falcatrua, a manipulação dos que não tem educação para se livrar das garras de pessoas que vivem no passado com ódio no coração. Mas ainda tenho minha coleção de Caros Amigos. Vou guardá-la para sempre. Abs
Queria pensar que não é CANSEI, mas CANSAMOS, e que isso fosse pelos últimos anos; mas "a mentira, a falcatrua, a manipulação dos que não tem educação para se livrar das garras de pessoas que vivem no passado com ódio no coração" etc nos acompanham, infelizmente, desde as caravelas, passando pela areia brasileira que Carlota Joaquina não quis levar nos sapatos até a atual história da nossa República.
O nosso problema começa com a falta de ética e, por que não, compaixão com aqueles que mais precisam do poder público, aqueles que não moram em Alphavilles e muito menos freqüentam a Daslu.
O Instituto Criar é mesmo um projeto maravilhoso e não questiono isso.
Ainda quero empretada sua coleção de revistas "Caros Amigos". Beijos e agradeço a visita.
O q me deixa mais feliz é q esse raciocínio seu e do teu amigo ferrés começa a ser visto com a devida crítica.
Essa história de "vítima social" já deu o q tinha q dar. É um raciocínio esquizofrêncio de uma esquerda q preza pela estupidez.
Querer q o Luciano Huck, eu ou qualquer pessoa q não nasceu no morro, periferia, etc... seja responsável pelas mazelas sociais desse país tem o mesmo princípio q acusar um rapaz alemão de vinte ou trinta e poucos anos pelo genocídio de judeus na II Guerra.
Eu sou de classe média, trabalho, não tenho carro, pago os meus impostos, vivo sem luxo e dificilmente consigo pagar minhas contas. EU NÃO ME SINTO CULPADO PELAS MAZELAS DESSE PAÍS. Se eu for assaltado, eu não vou olhar para o sujeito e pensar: "pobrecito....ele é uma vítima da sociedade" Aliás, qro ver o "rapper" ferrés dizer isso qdo "a vítima social" por uma pistola no pescoço da mãe ou da namorada dele.
Acabou essa história de vítimização da sociedade.
A casa finalmente está caindo para vcs.
outra coisa, adilson jorge, esse "herói dos morros" é brincadeira....
você e seu amigo "herói dos morros" são dois contraventores.
o primeiro por assalto a mão armado e vc por incentivo ao crime.
o primeiro deve ser mesmo um pé-rapado, já vc é um contraventor almofadinha.
parabéns pra vc,
Para finalizar, adilson jorge, um dos sinais de q este país finalmente começará a amadurecer, será qdo vcs q se enxergam como a plataforma da consciência cívica entenderem q A LEI É IGUAL À TODOS!
Seja para mim, para vc, para o "rapper e escritor" ferrés epara o teu querido "heróis dos morros".
A questão é: a merda da agenda setting funciona, não é Adilson? E o caos nos jornais só prova que acontecimentos comuns, como assaltos, e que não se resolvem da noite para o dia, viram assuntos espetáculares, shownarlescos e que fazem, os mortais abestados dos espectadores ficarem falando merdas a respeito do que o Luciano Huck escreveu ou deixou de escrever e, pior, brigando e causando polêmica. Ele tem o direito de reclamar, mas que seja pro vizinho dele, pq eu sei q violência existe e q não se resolve só por causa de um desabafo. As vezes, é até melhor que pessoas ricas como ele comecem a ser assaltadas com maior frequência, talvez assim algo mude. Se bem que o próprio Ministro da defesa já foi, e aí, algo mudou? Talvez se a Xuxa for sequestrada a globo decrete aí uns dias de luto. Mas e o zé lá da rua da bocada? Ele paga imposto como o Luciano e é roubado todo dia, pois não vê água encanada nem de longe. Para a moça que comentou sobre a fundação do Luciano Huck, antes de tudo, saiba que instituições como essa dão uma enorme abatida na declaração de imposto de renda dele. Fazer o bem, sem olhar a quem? hunf, difícil hein?
Concordo com você Adilson, a mídia pauta as conversas alheias, com assuntos bestiais. E o caos aéreo, o Brasil parado? Engraçado é que menos de 1/3 da população no Brasil já viu um avião.
É preciso dizer as pessoas....saibam menos, investigue mais.
Também já fui assaltado e levaram meu relógio, mas o que ladrão não sabia era que eu era mais pobre que ele e aquele relógio foi meu salário.Aprendi a não mais usar coisa cara, diferente do Luciano Huck, que vive em meio á uma sociedade que valoriza bens artificiais, onde a televisão é vitrine para mostrar seus artigos de marca.Não é culpa dele não ,mas desta "high Society" onde vale mais quem tem mais.Quem sabe agora essa high Society aprenda com ele,que ser fino é ser sutil, é ter valores imateriais, como sempre foi a atitude desse moço, que eu tanto admiro.
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