sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A partir de hoje, o teatro mudou

ARTE EM LUTO
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O velho rabugento e materialista que encenava atualmente na peça "O Avarento", do escritor Molière, texto do século XVII, era o oposto da figura de Paulo Autran. Considerado o maior ator de teatro do país, Autran morreu hoje às 16h em São Paulo, aos 85 anos. O ator sofria de câncer no pulmão e enfisema pulmonar e estava internato desde ontem no Hospital Sírio Libanês, na capital paulista.

Encenando sua 90ª peça de teatro, Paulo Autran passou mal há poucos meses e foi internado com suspeita de problemas cardíacos. Na terça, o que levou o ator ao Hospital foram problemas intestinais.

Nasceu em 1922 no Rio de Janeiro. Apesar de formar-se em Direito pela Universidade do Largo São Francisco, em São Paulo, por sonho de ser diplomata e por influência do pai que era delegado de polícia, o jovem Paulo Autran já se sentia arrematado pela arte de atuar. É nessa época que começou a participar de peças amadoras. . "Tirei meu anel de advogado, presente de pai, dei para uma amiga e nunca mais entrei num fórum", disse sobre o diploma.

Quatro anos depois de terminar a faculdade, em 1949, ele estréia como ator na peça "Um Deus Dormiu Lá em Casa", contracenando com uma das atrizes que mais era amigo, Tônia Carreiro. Depois dessa, foram mais 89 peças, entre elas os sucessos de críticas "Otelo", "Antígone", "My Fair Lady" e "Visitando o Sr. Green"

Apesar de ter sido a atuação no teatro o grande destaque de sua carreira, uma das mais expressivas do cenário nacional, Paulo Autran participou de grandes sucessos na televisão e no cinema. O que inclui novelas como "Pai Herói" (1979), "Sassaricando" (1987) e "Guerra dos Sexos" (1983), e a minissérie "Hilda Furacão" (1998). No cinema, participou do primeiro filme colorido produzido no país "Destino em Apuros" (1953).

Em entrevista ao Globo Online, em setembro do ano passado, Paulo Autran deu um exemplo do porquê preferia o teatro a televisão, mesmo tendo menor exposição na mídia. "Quando eu fiz o Baldaracci (da novela Pai Herói, de Janete Clair), entrei numa loja em São Paulo, tinha uma senhora, até bem vestida, que veio tentar falar comigo num italiano arrevesadíssimo e perguntei por que ela falava italiano.'O senhor é brasileiro, tinha certeza que o senhor era um ator italiano que a Globo contratou', perguntei a ela se ela não ia ao teatro e ela disse, 'Vou sempre, chego em casa, a primeira coisa que faço é ligar a televisão'. Para ela teatro era a televisão. E não era uma mendiga de rua, era uma pessoa bem apessoada. Mas a falta de inteligência dela não me despertou nenhuma vontade de me aproximar", relatou.

Simplesmente Paulo

fotos: Folha Imagem