CINEMA
Discutir a vida, em todas as suas facetas – das relações amorosas à morte -, é uma das atividades mais praticadas, mesmo que não tenhamos a mínima noção de sua presença. Andando na rua, observando as pessoas ou o nada. Não pode nenhuma pessoas levantar a mão, estufar o peito e dizer: “Nunca me questionei sobre a vida!”. Parecem que algumas pessoas preferem viver na inércia, mas mesmo essas medrosas perante às dúvidas e acomodadas nas explicações de qualquer um ou do consenso, param e refletem.
O filme “Waking Life” traz toda essa reflexão numa avalanche de pensamentos. Do personagem principal, um jovem caminhando na linha que separa a realidade do sonho (e muitas vezes sem saber para qual lado está mais caído), aos personagens que este encontra caminhando pela rua, tendo devaneios, tentando ou não apagar a luz de um interruptor. Aliás, a técnica de mexer do interruptor é dada no filme como forma de saber se tudo o que você está passando é um sonho/pesadelo ou realidade. Se você conseguir apagar a lâmpada, está na no segundo, caso contrário, está sonhando.
A filosofia tradicional permeia os pensamentos explícitos no filme. Os personagens não têm receio de falar sobre os seus próprios pensamentos, dos mais desvairados, ao consagrados por filósofos como Sartre e seu existencialismo.
Mas essa discussão não está somente em livros empoeirados. Está na nossa vida cotidiana. O que o filme narra é uma aventura na mente complexa – e qual não é – de um jovem. Nossa vida é permeada por esses pensamentos avulsos e conectados, colados ou como elétrons descontrolados, de pensamentos de história da Carochinha aos da mãe e do pai que sabem tudo quando somos criança.
Na verdade, quando nos questionamos sobre a vida, mais comum na fase da adolescência, parece que perdemos o chão, caídos sem proteção. Somos tomados por uma crise, uma bem maior que as econômicas que assolam por aí e se transformam em pesadelo para alguns bilionários sem dinheiro.
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O personagem principal do filme “Waking Life” traz a tona essas discussões. Ora quer repudiá-las, ora, compreendê-las. Do cinema à violência, da objetividade à subjetividade, do sonhador ao personagem sonhado. Parece de uma pertinência incrível essa discussão, e mais do que isso, ter a coragem – tão necessária – para revelar essas dúvidas para o mundo, mesmo que os olhos dos amigos tragam uma desconfiança de insanidade. Afinal, é taxado de louco que pensa porque existe. Nossa sociedade está programada para viver por viver, sem saber por que vive.
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A discussão torna-se tão importante que todas as outras linguagens do filme viram secundárias. O cenário, por exemplo, se mexe constantemente e você não consegue ter um ponto fixo, logo, presta muito mais atenção do que está sendo dito e não naquilo que é mostrado. Aliás, o filme trabalha com uma linguagem visual que fica no meio termo entre o real e o desenho. Traços cubistas e impressionistas entrelaçados, um abraço entre as obras de Picasso e Monet. Uma lindíssima expressão tão inovadora que choca à primeira vista. Mas não é para isso mesmo?
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Com um “ser ou não ser” shakesperiano modernizado, o filme mostra o ser humano vagando entre a realidade e a imaginação. Dúvidas que cabem no ciumento Bentinho, de “Dom Casmurro” de Machado de Assis; a busca de querer realizar os desejos secretos e ser amada de Luiza, em “O primo Basílio” de Eça de Queiroz, ou na dona de casa insatisfeita de “Foi apenas um sonho”; de virar um inseto, como na obra de Franz Kafka. Ou seja, questões que se apresentam só pelo simples fato de se viver.
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