ARTIGO
A fortaleza de uma família é sua casa, onde a janela com o azul cintilante da televisão e o pão de forma sobre a mesa mostram que ali vivem pessoas com suas histórias, alegrias e tristezas. Um chão coberto de entulhos, móveis quebrados, papéis, possíveis fotos que relembram momentos importantes de uma família que foi obrigada a se retirar e ir para “Deus sabe lá onde” poder dormir, acolher os filhos, reconstruir a vida. O motivo: uma economia que visa o lucro que não tem limites, é formado pela ganância dos ricos que querem ficar mais ricos, um sistema econômico que não agrega, mas separa.
A foto vencedora do World Press Photo Fundation sintetiza essa ruptura, esse estrago ocasionado pela crise econômica. De forma humanizada, longe dos números vermelhos de Wall Stret e seus acionistas que estão acostumados a ganhar e nunca a perder. A foto mostra uma lacuna. Um abismo entre os que perderam milhões que não farão falta e aqueles que perderam a razão de viver. Como explicar para um filho que ele não pode ter uma casa, como os amiguinhos da escola, porque seu pai não possui dinheiro? Pergunta simples, mas com uma resposta que dá um nó na garganta e faz os olhos se encherem d’água.
A foto traz referência a postura do Estado de – ao enviar um policial para checar se realmente não existe mais ninguém na residência – dar socorro aos já ricos e manipuladores bancos e não diretamente às família que foram obrigadas a viver sem perspectiva, sem trabalho e sem casa. Um situação que contradiz a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tão defendida – em pronunciamentos e em filmes hollywoodianos – pelos americanos, mas que na prática, não é respeita por nenhuma nação. Todos têm direito à um lar, a declaração afirma pontualmente. Mas isso é seguido?
Como visto, a foto traz um discussão muito além – e mais importante – do que o discurso econômico, mas escancara um sistema discriminante. Não precisa de cores. A foto em preto e branco, uma das características do autor, Anthony Suau, sintetiza a crise porque ela é fria, não tem a cor da vida. Possivelmente, o fotógrafo se sentiu como que entre os destroços de uma guerra, como a invasão dos Estados Unidos no Iraque. A foto mostra que o policial busca um tipo de “terrorista” (aos olhos dos poderosos): uma pessoa sem dinheiro. Passarinho comum mas pouco importante no ninho quando não consome e não paga suas contas.