“Bênção”, a criança fala. “Deus te abençoe”, o adulto reponde. Coisa de interior, como dormir cedo e acordar com as galinhas. Confesso que até um tempo atrás, não me importava para essas coisas. Acredito que, quando criança, eu tinha muito outras inquietações e preocupações (tarefa da escola e correr pela rua, para exemplificar). Mas para meu avô paterno, a história mudava. Quando ia para a escola com uns oito anos de idade e passava na frente da casa dele, sentado na calçada, ele conversava coma alguns vizinhos. “Bênção, vô!”, eu dizia. “Deus te abençoe”, meu avô correspondia. Uma de minhas primas, numa conversa há tempos atrás, assumiu que nessa hora, para ela, sobrava até umas moedinhas. Sapeca como qualquer criança, ela aproveitada a visão deficitária dele para trocar, sempre que podia, um moeda de 50 centavos por uma de um real. E corria em direção ao bar comprar balas. Para mim, não precisava mais que aquele cumprimento. Para meu padrinho, acredito que posso contar nos dedos de uma só mão as vezes que “pedi a benção”.
Mas por que me peguei pensando nessas coisas de uns tempos para cá? Agora sou padrinho. Aquela coisa de responsabilidade, coisa e tal. Alguém do contra poderá dizer: Mas tudo isso por causa de ser padrinho? É. Sei que para algumas pessoas pode não ser uma das maravilhas do mundo ter uma afilhada, mas para mim a vida ganhou mais vida (se isso é possível). Mas é assim sempre: existem os gregos e os troianos.
Mas por que me peguei pensando nessas coisas de uns tempos para cá? Agora sou padrinho. Aquela coisa de responsabilidade, coisa e tal. Alguém do contra poderá dizer: Mas tudo isso por causa de ser padrinho? É. Sei que para algumas pessoas pode não ser uma das maravilhas do mundo ter uma afilhada, mas para mim a vida ganhou mais vida (se isso é possível). Mas é assim sempre: existem os gregos e os troianos.
É incrível como com o passar dos anos mudamos nossas idéias e começamos a dar mais importância para algumas coisas e a tirar de outras. Como querer impressionar alguém na escola que, hoje, nem lembramos o nome e lembrar daquelas pessoas que não nos importávamos muito.
Quando meu avô faleceu, no auge de seus oitenta e um anos, pensei que possivelmente jamais ouviria alguém pedindo bênção. E confesso que depois daquele mês de novembro de 1995, não me recordo de ter escutado mesmo. Para mim, meu avô se foi e com ele essa prática. A cidade foi se transformando e as crianças também. Elas preferem passar horas a frente do computador a conversar com algum parente mais velho. Aliás, outra frase que escutava muito quando eu ainda era criança, daqueles que sonham em ser bombeiros (nunca jornalistas, já perceberam isso?): “Tenha respeito com os mais velhos”. Essa frase também era muito usada pela minha irmã; apenas dois anos mais velha. Creio que ela falava nisso só para escapar de uma briga ou deixar prevalecer a sua vontade.
Hoje, com as tragédias que cansamos de assistir nas TVs, como tantas crianças sendo mortas e outras coisas que infelizmente lemos nos jornais, ainda me sinto como aquele menino adorava vestir o uniforme do Corinthians e que, hoje, não vê a hora de escutar um “Bênção, padrinho”.
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