sábado, 30 de maio de 2009

Encontre um sofá vago e conheça o mundo

INTERCÂMBIO



Maurizio Mangano (primeiro à esquerda) com diversos surfers em Milão


Hospedar desconhecidos ou ser hospedado por estranhos sem qualquer custo em um sofá. O projeto CouchSurfing (traduzido literalmente como “Surfando no Sofá”) pode parecer loucura à primeira vista, porém, está ganhando adeptos em todo o mundo. Hoje são 1.037.847 cadastrados representando 232 países, 41 a mais que a ONU (Organização das Nações Unidas). Vão dos Estados Unidos, 23,6%, ao Sahara Ocidental, com apenas um representante, o que não chega a ser 0,1%. Sem gastar dinheiro com hotéis ou albergues, os chamados surfers estão desbravando países e conhecendo novas culturas, abrindo uma nova discussão sobre o conceito de hospedagem.

A ideia do projeto surgiu quando o fundador Casey Fenton, um programador de computadores americano, encontrou na internet uma passagem para a Islândia que achou uma pechincha e decidiu conhecer o país. Como não tinha onde se hospedar e não conhecia ninguém lá, enviou cerca de 1.500 e-mails para estudantes de uma universidade da capital, Reykjavik, e perguntou quem poderia hospedá-lo. As respostas não demoraram a vir. Para sua surpresa, em menos de 24 horas, recebeu mais de cinquenta ofertas. Não teve dúvidas. Partiu com destino ao desconhecido e idealizou um projeto que relacionasse pessoas para viagens sem custo de hospedagem e com grande intercâmbio cultural.

Ser de graça não é a única vantagem do projeto. Os anfitriões costumam levar os hóspedes para conhecer a cidade e muitas vezes os surfers descobrem bares, baladas e endereços que não costumam aparecer nos guias turísticos. Fazem amigos e conhecem a vida na cidade, permitindo um contato com o cotidiano dos habitantes do lugar. Uma das desvantagens é ajudar nas tarefas domésticas, como lavar a louça.

Leonardo Penatti Agostini, de 24 anos, que conheceu o projeto através de uma amiga em 2007, lembra que o primeiro objetivo de ter se cadastrado no CouchSurfing foi encontrar pessoas que pudessem ajuda-lo durante um “mochilão” que estava planejando pela Europa. “Eu sou um grande fã do projeto. Acredito que através dele, muitas pessoas conseguem fazer um intercâmbio grande não só de culturas, mas também de amizades”, diz o campineiro que já ficou três dias em Berlim (Alemanha), dois em Viena (Áustria) e Paris (França) e cinco em Santiago (Chile).

O projeto ainda conta com “embaixadores” que divulgam o projeto pelo mundo. Maurizio Mangano é o responsável pela cidade de Milão, na Itália. Ele coordena as hospedagens e ajuda os surfers e anfitriões. “Sou cadastrado no projeto desde fevereiro de 2007 e depois de seis meses me tornei embaixador. Trabalho com o CouchSurfing mas não recebo nada por isso. É um hobby”, diz o italiano que em dois anos já cedeu o sofá para 310 pessoas, sendo oito delas brasileiras. “Sou a pessoa que mais hospeda na Itália”, orgulha-se.

Porém, o oferecido pelo projeto gera discussões entre os profissionais do Turismo. “Hospedar pessoas é algo mais complexo que isso. Acredito que esse projeto pode ser visto como prestação de um favor, nada além. Esse novo ‘serviço’ subestima a capacidade e eficiência dos profissionais da área de hotelaria e turismo”, argumenta a técnica em turismo e hospedagem, Maria Aparecida da Silva Ferreira.

A segurança é outra preocupação. Apesar de não se responsabilizar por ocasionais problemas que possam ocorrer entre surfers e anfitriões, o projeto dá dicas para evitar confusões. Cada membro pode ter um certificado de autenticidade através de uma doação, mesmo que simbólica, para o projeto. Através dos dados do cartão de crédito, o projeto verifica a veracidade dos dados cadastrados, como nome e endereço. Outra ferramenta é os depoimentos feitos nos perfis e que se tornam referências. Neles, os usuários dão sua opinião sobre as pessoas, falam das experiências que tiveram e aconselham os outros surfers a “embarcar” ou não em determinado sofá. “O importante é ter um perfil bem elaborado, com fotos, dados etc. Dá maior segurança para as pessoas trocarem informações e possíveis hospedagens”, alerta o holandês Arno van den Bos que já viajou para Argentina, França e Suíça e atualmente está em Campinas.

Para os aventureiros: www.couchsurfing.com

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Obina: folclore ou solução?

FUTEBOL

Na última segunda-feira, 25 de maio, o Palmeiras acertou a contratação do atacante Obina, que até então defendia as cores rubro-negra do clube carioca Flamengo. Mais do que uma mera aquisição de rotina do futebol brasileiro, a transferência de clube do centroavante ganhou destaque na imprensa, em várias facetas, sejam negativas ou positivas.

Como adendo, há de se afirmar que o número de rejeiçoes por parte da atitude da diretoria alvi-verde em trazer Obina para o plantel da equipe foi expressivamente maior do que os comentários positivos, sejam eles dados por jornalistas, pseudo-jornalistas, torcedores e corneteiros em geral.

Sob desconfiança de grande parte da imprensa e dos torcedores, Obina foi apresentado hoje ao Palmeiras e é o novo reforço para a temporada

Analisando friamente, não podemos dizer que a reprovação por parte da mídia sobre a chegada do ex-flamenguista seja de todo uma análise carrancuda e pessimista da situação. O histórico recente de Obina dá margens (e como!) para as críticas ao departamento de futebol do Palmeiras. Seguindo na contramão do que a sua função dentro de campo deve ser, o atacante de 26 anos não marca um gol desde novembro do ano passado, mais precisamente no dia 30, daquele mês, quando o Flamengo empatou com o Goiás em 3 a 3 pelo Campeonato Brasileiro. Ao todo, foram 17 jogos sem balançar as redes dos adversários, muita coisa para um atleta cujo ofício é o de marcar gols.

Porém, como o futebol é uma ciência inexata (e por isso tão apaixonante), alguns aspectos contam a favor do atacante, revelado no ano de 2002 pelo Vitória, da Bahia. Obina é sem dúvidas é um jogador bastante carismático, e também não possui um histórico polêmico. Mostra que é o chamado jogador "bom de grupo" e demonstra alegrar os ambientes por onde passa. Prova disso é que ele era idolatrado enquanto jogou no seu clube inicial, no Nordeste, e após se transferir para o futebol carioca logo cativou a mais numerosa torcida do país.

O carisma de Obina junto a torcida flamenguista foi tão grande que a massa rubro-negra o transformou num personagem folclórico, ou melhor exemplificando, uma espécie de "Biro Biro do século 21". Em uma canção bem-humorada, a torcida do Flamengo em várias oportunidades no lendário estádio do Maracanã entoou um forte e uníssono "Obina é melhor que Eto'o", fazendo uma comparação com o famoso e conceituado centroavante camaronês Samuel Eto'o, ídolo no Barcelona, um dos grandes clubes da Espanha e também do planeta.

A comparação entre os jogadores, obviamente, não tem cabimento, mas acabou virando um hit não só na torcida flamenguista, mas também usada como brincadeira por todos os amantes do futebol. Sendo assim, o "mito Obina" estava criado. Mas o atacante teve bons lampejos de jogador brilhante. Durante suas passagens por Vitória e Flamengo, colecionou algumas ótimas exibições, marcava ocasionalmente gols muito bonitos e, o principal de tudo, parecia estar predestinado a fazer a festa da sua torcida nas partidas mais decisivas. Não foi apenas uma vez em que vimos Obina sair do banco de reservas em uma partida de final de campeonato e, ao entrar em campo, marcar o gol do título de sua equipe. No Flamengo este fato ocorreu por diversas vezes, tanto no Campeonato Carioca como no Brasileiro.

Motivo de chacota, a aposta da diretoria palmeirense pode sim vingar. E caso Obina tiver um início de passagem pelo clube paulista acima das expectativas, logo ele pode conquistar o carinho dos fanáticos e exigentes torcedores alvi-verdes, que sem dúvidas passarão a entoar, assim como já fizeram antes os flamenguistas, o coro idolatrando seu mais novo matador. Apelidos já não faltam ao atacante por parte da torcida palmeirense. "Barack Obina" e "O-Bi-na-Libertadores" encabeçam a lista de descontraídas alcunhas que o atleta já vem recebendo dos torcedores de seu mais novo time.

Coincidência ou não, o Barcelona, de Eto'o, disputa nesta quarta, contra os ingleses do Manchester United, a grande decisão da Liga dos Campeões da Europa, torneio europeu interclubes que premia seu campeão com uma vaga no Mundial de Clubes da FIFA, a ser disputado no final do ano em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Já o Palmeiras, de Obina, vem fortalecido na Copa Libertadores da América e é apontado como um dos favoritos. Assim como o torneio europeu de clubes, a Libertadores, versão sulamericana da competição, também cede ao campeão uma vaga no Mundial de Clubes.

Caso Barcelona e Palmeiras cumpram seus objetivos e conquistem seus respectivos torneios, as duas gigantes equipes provavelmente se encontrarão no Oriente Médio, no final deste ano, para decidir qual é o melhor time de futebol do mundo. E este duelo pode colocar frente à frente os dois atacantes. Neste hipotético cenário, caso Obina faça prevalecer a sua mística de marcar gols nas horas decisivas, nunca a música tão folclórica fará tanto sentido.


Foto: Raphael Falawigna/Terra